segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Guia turístico de Vitória da Conquista/BA

Vitória da Conquista:

Vitória da Conquista fica no planalto da Conquista. Você sai do litoral e sobe, sobe, sobe. Quando parar de subir, aí é Vitória da Conquista.
O nome da cidade é um pleonasmo vicioso, ou seja, uma redundância dobrada visto que toda Vitória é uma Conquista e toda Conquista é uma Vitória. Mas sua origem está numa daquelas históricas Entradas e Bandeiras que ao chegar neste local, encontraram centenas de índios e mataram a todos. Então, construiu-se um prédio, a Igreja matriz, para a qual todos têm que pagar laudêmio quando compram uma casa.


Turismo:

O monumento mais conhecido é o Bigode de Pedral, um imenso quebra-molas que liga nada a lugar nenhum, construído quando o então prefeito Pedral erigiu-o em homenagem a si mesmo. O Cristo Redentor também fica na cidade, ele veio pra cá depois dos assaltos que sofreu no Rio de Janeiro. Foram tantos que ele ficava sempre com as mãos para o alto. Também aqui você não pode ver a estátua de perto sem antes pedir permissão aos donos do morro.

Estrutura:

Há quem diga que a estrutura da cidade é a melhor da Bahia. Novas faculdades, novas avenidas, novos prédios... No entanto, a massa populacional da cidade não percebe esses avanços por razões óbvias. Eles percebem o grande aumento da violência, nos quais há lugares em que apenas a polícia civil tem coragem de entrar. Na cidade de Deus, ou Nova Cidade, como é conhecida por aqui, o bixo pega e não é pouco, haja vista o toque de recolher. Não queira saber o que acontece com o cidadão que resolve dar um rolé por lá ao entardecer. Nos bairros Nobres a situação já muda, pois o máximo que lhe pode acontecer, e com muita frequência, é um assaltozinho de leve, mas de leve mesmo, coisa de um celular, um Ipod, ou uma moto... Agora se você for mulher, pega essa "muita frequência" e eleva a 13ª potência.

Lazer:

Além do shopping, onde os mauricinhos e patricinhas vão para dar aquele rolezinho esperto, existe a Avenida Olívia Flores. Nessa avenida, os playboys ligam o som dos seus carros (estragados) tunados para as (piriguetes) patricinhas (se esfregarem) dançarem ao som do arrocha, pagode e afins... Vale ressaltar que todos são (menores) maiores de 18 anos. Há quem prefira, diante das várias opções noturnas da cidade, ir ao badalado castelo (da putaria) do Vinho. Lá é possível encontrar um ambiente tranquilo, bem parecido com um ônibus para a UESB às 1:30 da tarde, com garotas de (programa) família apenas interessadas num entretenimento cultural e em (arrochar) dançar uma boa música. "Os cara" aproveitam para se darem bem com a mulherada, já que em outro lugar não conseguiriam este feito, e também, por que não (!?), mostrar sua grande virilidade, arrumando confusões, brigas, tiroteios, mortes... Outros lugares também badalados são: Gimba Jardim, Babilônia Drinks, Buraco do Sadan, Verona e Bar do Genilson. Este último, prima pelo caráter privativo de um ambiente tranquilo e pela beleza dos seus frequentadores. Mas pra você que não é da cidade, não pense que em Vitória da Conquista só existe Piriguete. Você pode encontrar mulheres direitas na.......na.... em... ahhh....! em suas respectivas casas é claro!
Além de comparcerem em (puteiros) locais badalados pela cidade, também é visível como os conquistenses consomem maconha. Os lugares preferidos dos maconheiros são as caixas d'agua na saída pra Barra do Choça, pista de skate(Ginásio de Esportes), Praça da Normal (um prato cheio para as piriguetes que se dizem muito doidas)e o fundo do Ginásio da UESB.


Locais Mais Badalados da Cidade: (a maioria é Buteco)

UESB (só dá maconheiro, viado e nerd e nos cursos de humanas tem em sua maioria jovens babacas vestindo camisa de Che Guevara, tentando fazer a revolução comunista, eles gostam do MST, do Lula, dar o cú e outras merdas afins).
Quinta sem lei: (Realmente em um lugar com lei isso seria proíbido, onde já se viu zoológico sem grade?!?!?! Só aqui mesmo, um zoo de poucas espécies, geralmente viados, sapas, jaburus e outras espécies exóticas! Serve também para experiêcias ufológicas para observar aliens ou para comprovação de que seres míticos como dragões e duendes existem!! Para a sorte de todos não é preciso se aventurar por aquelas bandas para conferir o "material" disponível, pois os corajosos[e desocupados] fotógrafos de sites de festas, de quinta categoria, como o AGITABAHIA, registram as melhores presenças.
Sorveteria Polo Norte (A caixa do francês! - quem mora em caixa é boneca)
Esquina da White Martins: (São Vicente) (o Point de um bando de sem-o-que-fazer que ficam lá resenhando até 4 horas da manhã) (Point das Marias)
Campão do Inocoop II - o point de muita putaria... (conheço o rei ou seria a rainha de lá..eh mara)
Zoo Bar - (O lar doce lar das bichas pobres de conquista)aqui você tem várias emoções: sauna natural, cerveja quente, risco de morte a todo instante pois não tem saída de emergencia. Aos gays só resta um mijadouro sem porta e sem nenhuma higiene, nem extintor de incêndio, ninguem é revistado (quem quiser entra com um arsenal). As putas sapas da cidade estão por lá frequentemente, por um precinho de menos de 20 reais você pega uma baranga. Tem as caminhoneiras disputando o titulo de mais macho e as bichas com os modelitos bregas, os donos possuem uma grande dificuldade na lingua portuguesa. Lá já chegou a vender COQUITEL e afirmam que não entra DE MENOR. Agora o bar mudou de endereço é na antiga Lan house rush, as bichas loucas da cidade estão todas felizes com o local mais sofisticado.
America Bar.
Master Motel
Lilas Bar
(ao lado do brega chamado POLIVALENTE)
Shrek Bar (a dona do bar trepa com todos os clientes)
Bar Pajeú mais conhecido como Bar de Zai (so vai véi pinguço)
Conveniencias Bar (Cororas atras de piriguetes novinhas)
Bar Conquista
Shopping Conquista Sul
Hiper BomPreço
Lagoa das Bateias
Esfirra de Tião
(Esfirra mista + suco = 1,00)
Butéquin de Esquina (Sua melhor opção do lado de cá)
Bar do Genílson (aqui o bagulho é pesado, putaria na geral)
Esfirra Chic
Viela Sebo-Café
(aqui é onde os pseudos intelectóides se reunem para ouvir música mpb e falar abobrinhas).
Bar do Barão
Tim Bar
(olha a faca!)aqui a conta vem sempre com algo a mais e nas mesas sempre tem as prostitutas manjadas de conquista).
Gimba Jardim
Verona (Tia Vera e suas meninas prestam um excelente atendimento, não esqueçam as camisinhas com tratamento de plutônio, só assim você escapa das DSTs.)
Babilônia Drinks
Bar do Bigode
(para você que quer tomar uma gelada com vento na cara é o bar ideal)
Castelo do Vinho (Local ideal para quem quer sentir o calor humano da Bahia, a maior concentração de pseudo ricos da cidade, é aqui que todos se acotovelam nas sextas e sábados a noite, ambiente ideal para se defumar e esperar horas por uma cerveja quente. Na parte exterior mesmo se estiver chovendo granizo alguns despachos de academia estarão de regata a espera de um "programa" melhor para o fim de noite.)
Av. Olívia Flores
Panvicon Center
(preferido das bichinhas caçadoras)Costinha's Bar: (A garçonete loira chamada vó Naiá atende melhor que os outros)
Cine só no shopping conquista sul
Parque de Exposições
BR 116
(Rio / Bahia)Praça Tancredo Neves
Estádio Lomanto Júnior
Pinicão
Feira do Rôlo
(mais conhecida como Feira dos Ladrão)
Boca de Forno (Mais conhecido como "Boca da Pose", situado na rua dos modestos, frequentado pela nata da humildade)
Gegê (pinga Boua)( Véias RUIMMMMMMMMMMMMMMMM)
PC ( vá de colete a prova de balas)
Purê BAR
Sushi
(antro dos boys gays encubados)
Bar do Popó
Espetinho do Seu Zé
Apogay
(cuidado com a conta sempre aparecem umas cervejinhas a mais , um caldo...)
Floresta ( S.O.S dos boys encubados)
Loi Bar (praça gesner chagas bairro candeias)
Dom Jorge ( o proprietário acha que lá é um bar de luxo, quer cobrar mais caro que os outros locais da cidade e ainda se acha no direito de ser grosso com os clientes)

Bar de Julival Inocoop II
Padaria e Cia
Rinha
(Point das sapas medonhas e homens desiludidos)
Siga La Vaca
Bar do Diva
(Siga la o boi(IMPORTANTE: ISSO NÃO É UMA PIADA, O NOME DO LUGAR É ESSE MESMO!!!!!!!!!))
Feira do Paraguai (central do tráfico conquistense)
Mirante da Estrada da Barra (quer ser preso, então aqui você PODEEE)Cachorro-Quente do Seminario
Kina de Massu
( tirados a boys ( na verdade arrocheiros), patys bregas e putas em geral)
Atacadão (local onde as bichas dão em cima dos funcionários)
ExPlanet lan house (aqui você encontra os noias da city)
O Céu (o povo de conquista é tãão culto que é só aparecer um simples hélicoptero no céu, que a renca se reúne na porta para dar tchauzinhos, e realizar um comitê de boas vindas com direito a Wisk falso)
Bar Paraqui perto da praça do Gil onde só três estão bebendo e o resto só serrando e tirando uma de doidão.
Igreja Nova Sião (onde os meninos sem o que fazer pegam o buzu de graça pra ver se acha uma mina crente que de bolas pra ele. eles se vestem de hip hop ou de metaleiros.)
Igrejas Evangelicas Renovadas (onde só dá muleque querendo tocar os intrumento das igreja e tentando pegar umas minas, ou pedir pra Deus arranjar um emprego.)
Copo Sujo (barzinho do seu Zé na entrada da UESB)


Autor desconhecido

domingo, 12 de setembro de 2010

ARABELLA - Tomo I {Heresia}

Cap. 1
Fogueira



Ela continuava parada ali, enquanto a neve rodopiava ao seu redor. O fogo se extinguira por completo, e o frio começava a lhe incomodar. Cobriu os olhos marejados com o capuz, desviando o olhar da fogueira pela primeira vez desde que fora acesa. A praça estava vazia, mas não tardaria a retomar sua rotina habitual, pois o sol já começava a surgir no horizonte, se levantando para acordar a todos. Decidiu sair dali antes que isso acontecesse.

A garota passava pelas casas da cidade onde morava a pouco menos de dois anos, observando-as pela última vez. Lançando mais um olhar para trás, viu a imponente Igreja de Saint Peter, no centro de Dorchester, encimando a grande praça onde estivera momentos atrás. Ainda saíam alguns finos cordões de fumaça dos restos da grande fogueira, que ardera por toda a noite em seu centro, com a multidão ao seu redor. Voltou-se rapidamente, lutando contra as lágrimas que teimavam em retornar aos seus olhos verdes, e seguiu seu caminho para casa.

Enquanto enfiava seus pertences na mochila, Arabella lembrava o tempo que passou naquela cidade. Torcia para que Ms. Hannah não acordasse; não gostava de despedidas. Doía pensar que poderia não tornar a vê-la, então dirigiu-se ao oratório da sala e deixou pendurado na imagem da Virgem Maria o pequeno crucifixo de prata que havia sido de sua mãe. Com lágrimas nos olhos, acendeu também uma vela, e murmurou uma oração pedindo à Mãe de Deus que a abençoasse.

Saiu da paróquia sem olhar pra trás. Não tinha para onde ir, mas isso pouco lhe importava. Toda a sua vida havia se transformado em cinzas diante dos seus olhos. Não havia sido ela mesma durante mais de seis estações. Emparedara seus sentimentos bem no fundo do peito, fingindo-se alheia e feliz com tudo à sua volta. Até mesmo seu nome quase foi esquecido, pois todos a conheciam como Amie, a garota que vendia bolos no mercado. Tinha certeza que manter segredo acerca de sua identidade a havia mantido a salvo durante esses quase dois anos. Mas agora Amie estava morta; jazia nos restos daquela fogueira, junto com seu passado, sua família e seu lar. Já era tempo de ser Arabella novamente, e começava a gostar disso. Estava livre, ainda que seu coração estivesse dilacerado. Sentia o sabor de seguir sem rumo, consciente de que estava só no mundo, mas ainda estava viva. E assim continuaria.

Caminhava a esmo pelas plantações, evitando ser vista pelos camponeses, dormindo nos celeiros ou em velhas casas abandonadas, vez por outra improvisando um abrigo quente ao lado de uma pequena fogueira, deitando-se sobre um grosso manto de peles para impedir o contato com o chão gelado. Seguia em direção ao norte, cobrindo grandes distâncias durante o dia, e prosseguindo mesmo depois do anoitecer, adormecendo somente quando não conseguia seguir mais adiante.

Arabella não tinha levado muita comida, então fazia o possível para economizar a que tinha. Por vezes capturava uma galinha que tivesse se afastado demais das terras de seu dono, chegando mesmo a assaltar um galinheiro numa madrugada, à procura de ovos. Quando se afastou dos campos, porém, esses pequenos recursos extras desapareceram. Após vários dias de caminhada, a garota alcançou a proteção das árvores da floresta em Blackmore, e sentiu seus músculos relaxarem um pouco, diminuindo o ritmo de seus passos. Em Dorchester, ouvira falar que o Vale Blackmore era assombrado, mas ela não temia os mortos. Os vivos preocupavam-na muito mais. Algumas horas depois, ouviu o barulho das águas e resolveu seguir o som. Chegou à beira de um riacho, já ao pôr do sol, onde parou para comer. Tirou da mochila um pequeno fardo com um pão duro, um pedaço de carne seca e algumas frutas desidratadas, sua última porção de comida. Comeu rapidamente, depois se curvou sobre o rio para beber água e encher seu cantil, que estava seco há dois dias.

De repente, pareceu-lhe que alguma coisa se movera na vegetação atrás dela. Virou-se de súbito, olhando em volta assustada, mas não conseguiu ver nada. Invadiu-lhe a sensação de que estava sendo observada.

– Quem está aí? – perguntou.

Não houve resposta. Nada se mexia no silêncio da floresta, exceto as folhas das árvores balançando ao vento, e as águas do riacho atrás dela. Caminhou em direção ao ruído, sem conseguir ver muita coisa na fraca luminosidade da floresta. Já estava anoitecendo, e ela ainda tinha que procurar um lugar para dormir. Encontrou um lugar perfeito pouco afastado da margem. Uma árvore de raízes enormes, onde ela podia se aconchegar ao abrigo do vento gélido da noite. Tirou a neve do local, que não era muita por causa da copa densa, estendendo no espaço entre as raízes sua pele mais quente. Descansou a cabeça na mochila e se cobriu com o pesado manto de viagem, adormecendo quase imediatamente.

***

Na manhã seguinte Arabella acordou com os músculos enrijecidos pelo frio e desconforto. Levantou-se lentamente, fazendo esfarelar-se a fina camada de gelo que se formara sobre seu manto. Arrumou suas coisas e voltou à beira do riacho bem cedo, imaginando se a água estaria gelada demais. Inclinou-se sobre a margem para beber, quando ouviu um leve estalo. Assustou-se, virando depressa a cabeça na direção do barulho, mas tudo que viu saindo dos arbustos foi um coelho cinzento.

– Volte aqui!

Arabella correu atrás do coelho, atirando pedras, até que uma delas acertou o bicho na cabeça e ele caiu rolando no chão. Ela o alcançou rapidamente, e com uma pancada mais forte deu cabo do pequeno animal. Voltou com o coelho morto para onde estava sua mochila, e começou a prepará-lo para ser assado. Enterrou o couro e as vísceras longe do riacho, para que seu cheiro não atraísse outros bichos, lavou sua carne e a temperou com algumas ervas que trouxera consigo. Começou então a juntar lenha para assar a carne, e em poucos minutos estava sentada diante de uma fogueira de fogo lento, mas firme. Ela apoiou seu desjejum em um espeto improvisado com um galho, em seguida se sentou e ficou observando as chamas. O cheiro das ervas se espalhou rapidamente no ar, atraindo não animais, mas uma figura bastante singular.

A garota o viu surgir lentamente por entre as árvores, como que receoso de se aproximar, e ficou observando-o intrigada. Era bastante velho; seus cabelos eram completamente brancos, e tão compridos quanto sua barba. Vestia um hábito de monge, de um marrom tão desbotado e gasto que era impossível dizer a cor que ele tinha quando era novo. Era preso na cintura por um cordão trançado, e terminava a um palmo dos seus tornozelos. Nos pés, o estranho usava sandálias de couro tão gastas quanto sua roupa.

– Bom dia, criança! – disse, em tom suave. – Se incomodaria em dividir sua refeição com um velho faminto?

– Claro que não, senhor! – ela responde. – Sente-se! Logo estará pronta.

O velho sentou-se diante da fogueira interpondo-a entre ele e a garota, porém de modo que tivessem visão clara um do outro. Arabella estava surpresa demais para sustentar um diálogo, embora ele tentasse encorajá-la com um sorriso, sem muito sucesso. De modo que, depois de algum tempo, o monge resolveu quebrar o silêncio.

– O que faz tão longe de casa?

– Não tenho casa. – foi só o que ela conseguiu responder antes que a voz falhasse outra vez.

– Bom, EU tenho uma casa. – retruca o velho. – Não é lá grande coisa, não passa de uma cabana velha. Pode cuidar dela, e dar um descanso para meus velhos ossos, se quiser. Assim não teria que dormir toda noite ao relento.
Ele abriu um sorriso simpático no rosto, e lançou um olhar astuto para a garota. Ela então compreendeu que era ele quem a observava desde que chegou ali. Estava mesmo cansada de dormir no chão duro e gelado, muitas vezes tendo apenas as estrelas como teto, de modo que ponderava a oferta do velho. Foi quando se lembrou de que não o conhecia.

– Perdão, mas... Quem é o senhor?

– Sim, claro! Perdoe a rudeza deste velho! Vivo nesta floresta há tanto tempo, tendo apenas os animais por companhia, que muitas vezes esqueço-me de formalidades como apresentações. Meu nome é Thimoty Clarkson. Outrora fui o capelão de uma pequena igreja na Cornualha.

– O senhor é um padre? – perguntou a garota, mal conseguindo disfarçar o sentimento de repulsa que lhe invadia.

– Não mais. Agora sou apenas um pobre eremita. Creio que minhas idéias se tornaram um pouco diferentes das dos meus irmãos. Então, resolvi viver em isolamento e contemplação, em uma cabana um pouco mais a leste. Para viver mais, por assim dizer.

– Como assim?

– Bem, digamos que não tenha conseguido ver maldade nas antigas crenças dos camponeses, que meus irmãos perseguem com tanta diligência. Então, meus superiores acharam que eu estava ficando indulgente demais, e resolvi me eclipsar antes que eles descobrissem que eu era muito bem vindo entre os pagãos.

– Entendo. – murmura ela, pensativa. – Meu nome é Arabella.

Depois de encerradas as apresentações, o semblante da garota assumiu um ar tão circunspecto que desencorajou as tentativas de diálogo do velho. Voltou sua atenção para o coelho, cortando pequenos nacos de sua carne em uma tigela para que pudessem mordiscar enquanto esperavam o restante assar por completo. De boca cheia, o padre não lhe faria perguntas.

Então, os chacais da Igreja também caçavam os seus semelhantes! Pensou nos dois longos anos que passara sob a proteção de Ms. Hannah, escondida pelo disfarce de Amie, a criada que vendia bolos na feira de Dorchester e acompanhava a viúva nas missas. Lembrou da angústia de esperar por meses a fio para que pudesse voltar à sua vida de antes, em seu lar humilde, com sua família, e descobrir desesperada que jamais teria essas coisas de volta.

Compreendia por que o velho resolvera desaparecer, afinal, ela mesma estava fugindo. Fugindo dos padres negros e da perseguição aos que pensavam diferente deles, aos que acreditavam em coisas que eles diziam ser pecado acreditar. Fugindo de seu passado, que ainda ardia em seu peito como aquela fogueira em Dorchester. Fugindo e se escondendo, sem saber ao certo o motivo, ou do que fugia, mas de uma coisa ela tinha certeza: se não fugisse, não viveria o suficiente para descobrir.



OBS.: "Padres negros" aqui refere-se aos Inquisidores da Ordem de São Bento ou da Ordem de São Domingos. Eram assim chamados por causa de seus hábitos pretos.

 Trecho de ARABELLA