sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Floresta Esmeralda

Devido à procura pelo meu 1º livro, o Floresta Esmeralda, estou republicando aqui a capa e o link para compra, no site da Editora Multifoco. Os pedidos são feitos pelo PagSeguro, se não tiver cadastro, terá que fazê-lo antes da compra. Se houver dificuldade na compra ou demora na entrega, podem entrar em contato comigo, aqui no blog (pelo CHAT ou deixando comentário), no orkut: ღPåттY ĄиgєŁღ HELLRAISER!!! ou no twitter: @siannodell. Quem já leu (todo ou uma parte) e quiser postar o que achou, fique à vontade também. Beijos a todos!!!




sábado, 25 de dezembro de 2010

No Presents For Christmas


No Presents For Christmas
(King Diamond)

Christmas time is here again
Santa needs a helping hand
We cannot find his evil sheet
To draw his laying for the night
So all the waiting christmas trees
Gonna hear their master sing....

There's no presents, Not this Christmas
There's no presents
Tom and Jerry, Drinking Sherry
They don't give a damn

Christmas time is here again
Santa needs a helping hand
It's getting very, very late
St.Peter's crossed the Golden Gate
An Donald Duck is still in bed
I wonder who he's gonna help

There's no presents, Not this christmas
There's no presents
Tom and Jerry, All done Sherry
They don't give a damn

There's no presents, Not this Christmas
There's no presents
Tom and Jerry, Still Drinking Sherry
They don't give a damn

I'm dreaming of a white... Sabbath...


***

Sem Presentes Para o Natal
(Tradução)

O tempo de natal chegou novamente
Papai noel precisa de uma mão ajudante
Nós nao conseguimos encontrar sua lista má
Para arrumar sua mesa para a noite
Então toda a espera pelas árvores de natal
Ouvirão seu mestre cantar...

Não há presentes, não neste natal
Não há presentes
Tom e Jerry bebendo xerez*
Eles não dão a mínima

O tempo de natal chegou novamente
Papai noel precisa de uma mão ajudante
Está ficando tarde, muito tarde
São Pedro atravessou o portão dourado
E o pato Donald ainda está na cama
Eu imagino quem ele vai ajudar

Não há presentes, não neste natal
Não há presentes
Tom e Jerry, todos bêbados de xerez
Eles não dão a mínima

Não há presentes, não neste natal
Não há presentes
Tom e Jerry, ainda bebem xerez
Eles não dão a mínima

Estou sonhando com um branco... Sabbath...


*Xerez (vinho espanhol)

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Scrap de fim de ano

Meus queridos, vejam só que "linda" mensagem de fim de ano eu recebi no orkut esta manhã!



Parece que compartilhar com vocês o caos em que o orkut está se tornando, além do fato de não concordar e de sempre denunciar esses canalhas, tem incomodado eles. Agradeço a Deus por isso, significa que eu estou no caminho certo. Eles continuarão lá, e só vão parar quando ninguém mais se CALAR. Omissão também é crime, e acredito que nenhum de nós se fará omisso diante de tal afronta à liberdade, à fraternidade entre os seres humanos e ao respeito e amor ao próximo. Nem esquecerá quanto sangue foi derramado na História para chegarmos onde chegamos, ainda que muitos queiram ver mais sangue e mais dor. Não tenho medo desses seres; tenho pena! São pessoas vazias de sonhos e objetivos as que se agarram a megalomanias alheias para justificar seu próprio fracasso enquanto ser humano. Pois compartilho agora o resultado, que mostro a vocês para que saibam que tem gente de verdade por trás desses fakes, e eles podem estar mais próximos do que vocês imaginam. No mais, um Feliz Ano Novo, cheio de vitórias e alegrias a todos!!!

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

ARABELLA - Tomo I {Heresia}

Cap. 3
A Filha da Parteira


O sol se erguia preguiçoso no horizonte, iluminando a fumaça que subia aos céus em uma densa espiral. Ela continuava ali parada, alheia ao cansaço e à fome, tentando entender o que havia acontecido. O vento frio cortava seu rosto, ainda aquecido pelo calor do fogo que agora se extinguia. Olhava para os restos da enorme fogueira diante de si, e se perguntava como tudo aquilo começou. Recordou de si mesma ainda pequena, vendo sua mãe se arrumando apressada para atender a um senhor muito jovem que aguardava aflito na soleira da porta aberta da sala.

– Minha esposa está para dar a luz, senhora! – dizia alto enquanto a porta do quarto se fechava. – Por favor, apresse-se!

Então sua mãe saía às pressas, e se demorava a voltar, como tantas outras vezes em outras tantas horas diferentes do dia ou da noite. Madeleine Tyburn era a melhor parteira da região, e atendia não só aos moradores da vila onde viviam, mas também a toda a circunvizinhança, motivo pelo qual às vezes passava vários dias fora. Então a pequena Arabella ia para a casa de sua avó, Sibila, onde aprendia a fazer chás e bolos de diferentes tipos. Alguns anos mais tarde, por volta dos nove anos, já acompanhava sua mãe em alguns partos mais próximos de casa, e a ajudava como podia, enquanto a velha Sibila ensinava agora infusões para dor de barriga, beberagens para dor de dente e pastas de ervas para curar ferimentos. Era assim que se transmitia a profissão: de mãe para filha, as mulheres da família aprendiam desde cedo os mistérios do nascimento e da vida, e mais tarde, da morte.

Nem todos os partos eram bem sucedidos. Arabella se recordava do primeiro recém-nascido que vira morrer, e de como o pai da criança reagiu à notícia:

– Bruxa! Mataste meu filho! Pagarás por isso, pagã maldita!

Tampouco todos os pedidos eram de homens que em breve seriam pais. Às vezes algumas jovens procuravam Madeleine não para dar a vida, mas para interrompê-la. Essas, a parteira atendia em um quartinho dos fundos, já preparado para recebê-las, no qual Arabella foi proibida de entrar até seus treze anos. Outras vezes senhoras mais velhas chegavam se queixando de dores enquanto tomavam chá na sala, e saíam com saquinhos de preparados de ervas que sua mãe lhe explicou que eram para aliviar os males do fim das regras da mulher, quando ela se tornava anciã.

Assim, aos dezesseis anos Arabella já sabia o suficiente das artes da profissão para se considerar uma parteira iniciante. Acompanhava sua mãe em todos os casos, atendia sozinha os mais fáceis e dava assistência às mulheres que precisavam ficar de repouso depois de abortos mais complicados. Foi aí que tudo começou.

Madeleine havia sido chamada à casa de Lady Caroline, esposa de Lord Landaff Moey, duque de Portland, para atender sua filha Mattie, que tinha a idade de Arabella. A garota escondia há seis luas (cerca de cinco meses) uma gravidez que provocaria uma verdadeira explosão no pequeno castelo da família Moey. Antes que seu marido descobrisse da pior maneira o romance de sua filha com o filho do moleiro, Lady Caroline, aproveitando-se de uma ausência demorada de Lord Moey, chamou a parteira em segredo, para que fizesse o aborto no castelo.

– A gravidez está avançada, e a garota é muito jovem. – argumentou Madeleine. – Não é prudente provocar um aborto nessas condições.

– Apenas faça! – respondeu asperamente a duquesa.

Dada à posição de Lady Caroline, e a gravidade da situação, a parteira não teve como recuar. Sabia das consequências se falhasse, mas não teria sorte diferente se recusasse. Com uma breve oração à deusa esquecida da vida e da morte, Madeleine iniciou os procedimentos, temendo tanto pela vida da garota quanto pela sua própria. Mattie parecia estar resistindo bem, mas uma hemorragia pôs fim às esperanças da parteira de que ela sobrevivesse ao aborto. Fez tudo que podia para salvar a garota, e Mattie ainda lutou por dois dias, morrendo no amanhecer do terceiro dia.

Quando Lord Moey retornou, Lady Caroline o convenceu de que a morte de sua filha fora provocada pelas ervas de Madeleine, e que esta havia sido chamada para curar Mattie de um descontrole em suas regras. Então o duque de Portland, cristão convicto e bastante influente na Igreja, procurou o pároco local e acusou a pobre parteira de assassinato. E não de um assassinato comum; Madeleine havia matado sua filha com as artes negras da bruxaria, que havia aprendido com sua mãe, a famosa pitonisa Sibila Tyburn.

Um eminente Bispo de Yorkshire, famoso por ter condenado à fogueira várias mulheres em seu condado sob a acusação de bruxaria, foi comunicado de que a filha do duque de Portland sangrara até a morte nas mãos de uma bruxa. Armado com uma bíblia e um compêndio recém copiado de Kramer e Sprenger, os “filhos queridos” do Papa Inocêncio VIII, o Bispo de Yorkshire rumou para o condado de Dorset.

***

No dia seguinte à chegada do bispo, Madeleine foi denunciada oficialmente ao Santo Ofício pelo duque de Portland, sob as acusações de assassinato e bruxaria. Alguns dias depois, foi chamada a depor perante o bispo beneditino, e Arabella ficou sozinha em casa esperando sua mãe voltar do interrogatório. Mas os dias foram se passando, e Madeleine não retornava, nem mandava notícias. Atordoada e com medo do que poderia ter acontecido, procurou sua avó, mas encontrou a casa vazia. Soube, pelos vizinhos, que Sibila tinha sido levada pelos inquisidores há uma semana, portanto três dias antes de sua mãe. Rumou então para a Igreja de Saint Peter, em Dorchester, e lá ficou sabendo que as duas estavam sendo interrogadas separadamente quase todos os dias. Alguns falavam em torturas horríveis, como cordas e ferros em brasa, outros ainda falavam de uma roda que esticava os membros do infeliz até que ele confessasse tudo quanto os inquisidores quisessem.

Arabella não voltou para casa. Dormia nas ruas escuras e malcheirosas próximas ao mercado, sobrevivendo de pequenos serviços em troca de comida, até que uma senhora chamada Hannah compadeceu-se dela e a abrigou. Ensinou-a a fiar e tecer, depois a bordar, e a garota pagava sua estadia com trabalho, como aprendiz da velha senhora. Esta, por sua vez, trazia informações da Igreja sobre Madeleine e sua mãe. Assim a garota pôde saber da morte de sua avó, cerca de dois meses depois de sua chegada.

Ms. Hannah Hutton, uma viúva bastante conhecida por suas belas peças de linho, que adornavam principalmente o púlpito e o altar principal da igreja local, não tinha dificuldades em colher informações entre os mexericos das beatas. Contou que Sibila fora interrogada pela água, mas os inquisidores calcularam mal sua resistência e ela morreu de uma pneumonia adquirida em decorrência da tortura aplicada, depois de semanas de agonia. Madeleine, no entanto, suportava a tudo, recusando a confessar-se bruxa e alegando-se inocente das acusações, que a essa altura já incluíam dezenas de mortes de recém-nascidos, algumas mulheres, e até mesmo gado e plantações de moradores próximos à vila onde morava. Havia também acusações de “mau olhado”. Ainda assim, a parteira passara pelo interrogatório e pela tortura, mas continuava irredutível. A certa altura Ms. Hannah soube horrorizada que os inquisidores tinham ido procurar Arabella para torturá-la na presença de sua mãe, forçando-a assim a confessar seus pecados, porém não encontraram a garota, que a partir desse dia passou a ser chamada de Amie, e a ser apresentada como uma parenta distante da fiandeira. Arabella começou a fazer bolos e pães, e os vendia no mercado. Aos poucos foi se integrando à vida na paróquia. Com a nova identidade criada por Ms. Hannah, a garota pôde circular dentro dos muros da cidade livremente, absorvendo as diferenças entre aquele lugar e sua pequena vila, com casas distantes umas das outras e grandes florestas em torno das plantações, que davam à terra a aparência de uma enorme colcha de retalhos. Ali as casas eram coladas umas às outras, as ruas estreitas e irregulares, onde as pessoas jogavam lixo e faziam suas necessidades, provocando uma imundície característica dos arredores da barulhenta feira local. Mais adiante ficava a Igreja de Saint Peter, com suas esculturas de santos talhados em pedra e seus vitrais coloridos, contrastando a riqueza da Igreja com a pobreza ao seu redor.

Em pouco tempo, “Amie dos bolos” tornou-se bastante conhecida pelos mercadores. Além disso, as encomendas de Ms. Hannah dobraram, já que agora ela contava com a ajuda das mãos hábeis da garota, o que melhorou consideravelmente a vida das duas. Arabella não arriscara mostrar seu conhecimento da profissão de parteira, com medo de chamar a atenção dos padres para si. Apenas para sua protetora mostrara seus dotes, quando esta ficou doente e Arabella a curou com os chás que aprendera com sua avó Sibila. Durante todo o tempo que Ms. Hannah ficara de cama a jovem cuidara dela, além de cumprir sua cota na manufatura, o que fez com que não fosse ao mercado por duas semanas inteiras. Soube depois que nesse meio tempo outra mulher foi trazida para os porões da Igreja acusada de sugar a alma de um recém-nascido pelo nariz.

Até aquele momento, Arabella havia concentrado a acusação de bruxaria à sua família. Sua avó era uma pitonisa conhecida, e ouvira várias vezes familiares indignados chamarem Madeleine de bruxa quando algo dava errado, principalmente se a mãe morresse no parto ou o primogênito não sobrevivesse. Comentara o fato com Ms. Hannah, que exclamou em tom de cansaço:

– Minha querida, há dez anos perdemos nossa parteira para as fogueiras da Santa Inquisição, por ter enfeitiçado o antigo padre daqui, fazendo-o cair em pecado. A pobre mulher foi queimada viva com a criança ainda crescendo no ventre. Desde então, não há um mês sem que ao menos uma bruxa seja queimada naquela praça, e já vimos muitas. Será um milagre se sua mãe sobreviver.

Um mês depois soube que a outra mulher havia confessado ser uma bruxa e iria ser purificada pelo fogo em praça pública no domingo depois da missa matinal. Nenhuma das duas quis ir à Igreja nesse dia.

As luas iam e vinham, as estações mudaram, e outras mulheres queimaram na praça, enquanto Arabella aguardava o resultado do processo de sua mãe. Embora soubesse que Madeleine resistia, havia perdido as esperanças de que fosse inocentada. Chorava quase todas as noites agora, mas tomara uma decisão; esperaria para ver sua mãe novamente, ainda que fosse apenas no dia de sua morte. Foi quando recebeu a notícia, em primeira mão, de um dos mercadores que compravam seus bolos; neste domingo a bruxa que matou a filha do duque de Portland seria purificada.

Depois de quase dois anos de cárcere e tortura, Madeleine havia sido condenada, pelo crime de bruxaria, a ser queimada viva em praça pública. A garota não conseguia acreditar no que via, pois dentre as acusações que ela ouvia o arauto pronunciar em voz lenta e morosa, existiam coisas absurdas como “cavalgar nua em companhia de outras bruxas, voando ao encontro de Satanás”, “copular com os demônios chamados Incubus, e dessa união ímpia gerar uma criança”, “sacrificar inocentes em louvor ao diabo”, “infligir males ao rebanho de Lord Smith, fazendo-o minguar”, e “fazer sangrar até a morte por artes mágicas a filha do duque de Portland”, a única das acusações que tinha sentido, ainda que também fosse falsa.

Em seguida, viu sua mãe sendo trazida em uma carroça, e acorrentada pelo carrasco a um pequeno poste no centro de uma grande fogueira. A multidão gritava, amaldiçoando-a e lhe atirando pedras e lama. Arabella nunca tinha assistido a uma execução pública, mas aquelas pessoas estavam habituadas ao que consideravam uma diversão bem-vinda, ainda mais quando o condenado era um desafeto da comunidade. Algumas pessoas reconheceram Madeleine. Arabella pôde ver a compaixão em seus rostos, e chegou mesmo a reconhecer uma jovem que sua mãe atendera três anos antes, com seu filho nos braços, se retirando da praça com os olhos marejados e uma expressão de profundo pesar.

Então, lentamente as chamas envolveram a parteira, que gritava e blasfemava contra aqueles que a condenaram, amaldiçoando-os em nome dos deuses antigos, o que provocou reações indignadas da multidão católica, até que uma pedra maior a atingiu na cabeça e ela desmaiou. O corpo de Madeleine foi consumido rapidamente pelas chamas, exalando um odor forte de carne queimada, e quando não restaram mais vestígios da pobre mulher, a multidão se dispersou, restando apenas Arabella e o pálido amanhecer do Solstício de Inverno do Ano de Nosso Senhor de 1486.


 Trecho de ARABELLA

domingo, 19 de dezembro de 2010

1º ROCK GOLAÇO em Camaçari/BA

Dia 19 de dezembro, a COOPERAROCK encerrará suas atividades no ano de 2010 com uma confraternização entres as bandas de rock de Camaçari... Vem aí o ROCK GOLAÇO!!! Isso mesmo! As bandas de rock de Camaçari disputando um torneio de futebol onde a vencedora gravará uma música no Studio Iguana. Vai ser um domingo de sol, rolando futebol e rock'n'roll. Sem contar com os pernas de pau de plantão, dando um toque sutil nesse torneio que entrará pra história de Camaçari... Será o primeiro de muitos. Estão todos convidados!





1° ROCK GOLAÇO
Dia 19/12/10 (domingo)
Às 10 horas da matina
Na quadra de esporte da CIDADE DO SABER
Ingresso: 1Kg de alimento não perecível
Camaçari-BA

domingo, 12 de dezembro de 2010

Como escrever a tese certa e vencer

Ter que fazer uma tese de doutoramento na incerteza de como será recebida e na insegurança quanto ao futuro da carreira é experiência traumática. Quando passei por ela, gostaria de ter tido alguma ajuda. É esta ajuda que ofereço hoje, após 30 anos de carreira a um hipotético doutorando, ou doutoranda, sobretudo das áreas de humanidade e ciências sociais. Ela não vai garantir êxito, mas pode ajudar a descobrir o caminho das pedras.

Dois pontos importantes na feitura da tese ou na redação de trabalhos posteriores são as citações e o vocabulário. Você será identificado, classificado e avaliado de acordo com os autores que citar e a terminologia que usar. Se citar os autores e usar os termos corretos estará a meio caminho do clube. Caso contrário, ficará de fora à espera de uma eventual mudança de cânone, que pode vir tarde demais. Começo com os autores... A regra no Brasil foi e continua sendo: cite sempre e abundantemente para mostrar erudição. Mas, atenção, não cite qualquer um. É preciso identificar os autores do momento. Eles serão sempre estrangeiros. No momento, a preferência é para franceses, alemães e ingleses, nesta ordem. Entre os franceses, estão no alto Ricoeur, Lacan, Derrida, Deleuze, Chartier, Lefort. Foucault e Bourdieu ainda podem ser citados com proveito. Quem se lembrar de Althusser e Poulantzas, no entanto, estará vinte anos atrasados, cheirará a naftalina. Se for para citar um marxista, só o velho Gramsci, que resiste bravamente, ou o norte-americano F. Jameson. Entre os alemães, Nietzsche voltou com força. Auerbach e Benjamin, na teoria literária, e Norbert Elias, em sociologia e história, são citações obrigatórias. Sociólogos e cientistas políticos não devem esquecer Habermas. Dentre os ingleses, Hobsbawm. P. Burke e Giddens darão boa impressão. Autores norte-americanos estão em alta. Em ciência política, são indispensáveis, R. Dahl, ainda é aposta segura, Rorty e Rawls continuam no topo. Em antropologia, C. Geertz pega muito bem, o mesmo para R. Darnton e H. White em história. Não perca tempo com latino-americanos (ou africanos, asiáticos, etc.). Você conseguirá apenas parecer um tanto exótico.

Brasileiros não ajudarão muito, mas também não causarão estrago se bem escolhidos. Um autor brasileiro, no entanto, nunca poderá faltar: seu orientador ou orientadora. Ignorá-lo é pecado capital. Você poderá ser aprovado na defesa de tese, mas não terá seu apoio para negociar a publicação dela e muito menos a orelha assinada por ele. Se o orientador não publicou nada, não desanime. Mencione uma aula, uma conferência, qualquer coisa.

O vocabulário é a outra peça chave. Uma palavra correta e você será logo bem visto. Uma palavra errada e você será esnobado. Como no caso dos autores, no entanto, é preciso descobrir os termos do dia. No momento, não importa qual seja o tema de sua tese, procure encaixar em seu texto uma ou mais das seguintes palavras: olhar (as pessoas não vêem, opinam, comentam, analisam, elas têm um olhar); descentrar (descentre sobretudo o Estado e o sujeito); desconstruir (desconstrua tudo); resgate (resgate também tudo o que for possível, história, memória, cultura, Deus e o diabo, mesmo que seja para desconstruir depois); polissêmico (nada de “mono”); outro, diferença, alteridade (é a diferença erudita), multiculturalismo (isto é básico: tudo é diferença, fragmente tudo, se não conseguir juntar depois, melhor); discurso, fala, escrita, dicção (os autores teóricos produzem discurso, historiadores fazem escrita, poetas têm dicção); imaginário (tudo é imaginado, inclusive a imaginação), cotidiano (você fará sucesso se escolher como objeto de estudo algum aspecto novo do cotidiano, por exemplo, a história da depilação feminina); etnia e gênero (essenciais para ficar bem com afro-brasileiros e mulheres); povos (sempre no plural, “os povos da floresta”, “os povos da rua”, no singular caiu de moda, lembra o populismo dos anos 60, só o Brizola usa); cidadania (personifique-a: a cidadania fez isso ou aquilo, reivindicou, etc.). Para maior efeito, tente combinar duas ou mais dessas palavras. Resgate a diferença. Melhor ainda: resgate o olhar do outro.

Atinja a perfeição: desconstrua, com novo olhar, os discursos negadores do multiculturalismo. E assim por diante.

Como no caso dos autores, certas palavras comprometem. Você parecerá démodé se falar em classe social, modo de produção, infra-estrutura, camponês, burguesia, nacionalismo. Em história, se mencionar descrição, fato, verdade, pode encomendar a alma.

Além dos autores e do vocabulário, é preciso ainda apreender a escrever como um intelectual acadêmico (note que acadêmico não se refere mais à Academia Brasileira de Letras, mas à universidade). Sobretudo, não deixe que seu estilo se confunda com o de jornalistas ou outros leigos. Você deve transmitir a impressão de profundidade, isto é, não pode ser entendido por qualquer leitor. Há três regras básicas que formulo com a ajuda do editor S. T. Williamson. Primeira: nunca use uma palavra curta se puder substituí-la por outra maior: não é “crítica” mas “criticismo”. Segunda: nunca use só uma palavra se puder usar duas ou mais: “é provável” deve ser substituído por “a evidência disponível sugere não ser improvável”. Terceira: nunca diga de maneira simples o que pode ser dito de maneira complexa. Você não passará de um mero jornalista se disser: “os mendigos devem ter seus direitos respeitados”. Mas se revelará um autêntico cientista social se escrever: “o discurso multicultural, como ser desconstrutor da exclusão, postula o resgate da cidadania dos povos da rua”.


José Murilo de Carvalho, O Globo, 16/12/99, pág. 7


segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

ARABELLA - Tomo I {Heresia}

Cap. 2
O Eremita


Depois da refeição, os dois caminharam pela floresta por várias horas, até chegarem a uma cabana de caçador no meio das árvores. O lugar era desolado, e a neve fazia com que o cenário se assemelhasse a uma pintura. Ao lado da casa, um cercado com algumas cabras e um pequeno galinheiro com tranca de madeira na porta. Nos fundos, os contornos de uma pequena carpintaria adjacente ao casebre.

O eremita empurrou a porta e convidou Arabella a entrar. Ela cruzou a soleira lentamente, observando o ambiente. Por dentro, a cabana era dividida em três cômodos; uma sala, uma pequena cozinha e um quarto ainda menor. Os móveis eram poucos e bastante rústicos. A sala tinha uma mesa com dois bancos compridos, algumas cadeiras, uma estante improvisada com prateleiras cheias de livros, uma pele de urso gasta diante de um oratório com uma imagem da Virgem Maria em madeira polida e um crucifixo na parede atrás dela, ambos provavelmente esculpidos pelo próprio padre.

Na cozinha, mais prateleiras com tachos e panelas, um caldeirão vazio pendurado no gancho do fogão, alguns fardos de mantimentos pendurados no teto e uma mesa baixa com quatro banquinhos de três pernas. No quarto, um catre coberto com um colchão de palha e uma mesinha de cabeceira com uma lâmpada a óleo, uma bíblia em língua comum, traduzida por ele mesmo, e um terço.

– Não é muito grande, mas deve ser o suficiente para nós dois. – diz o padre. Acredito que esteja acostumada a viver sem conforto.

Arabella fez que sim com a cabeça, e descansou a mochila ao lado do catre, correndo os dedos pela capa do livro. Olhou para o padre, que lhe fez um gesto permissivo, e apanhou o manuscrito. Sentando-se na cama com a bíblia aberta nas mãos, correu os olhos pelos sinais que não conseguia compreender.

– O senhor sabe o que significam?

O velho riu divertido, sentando-se lado da garota.

– Claro que sei, pequenina! Estudei por vários anos antes de me tornar padre, e continuei por tantos outros, mesmo depois que vim para cá.

– Gostaria de poder compreender o significado destes traços. – falou, admirando as letras caprichosas do padre nas folhas de papel.

– Posso ensinar-lhe, se quiser.

A garota olhou para ele, com uma expressão de alegria estampada no rosto.

– Claro que quero! – respondeu. – Ms. Hannah me falou que só os homens e as ladies podiam aprender!

– Não é verdade. As irmãs dos conventos também aprendem a ler.

– É, mas elas são da Igreja. – e novamente sua voz ficou marcada pelos sentimentos de revolta e desprezo que mal conseguia disfarçar.

– Por que tem raiva da Santa Igreja, menina?

Perguntou o padre, sério. Arabella baixou os olhos, envergonhada. Tentou pedir desculpas pela grosseria, mas um nó na garganta a impediu de falar. Era verdade, ela odiava a Igreja. Sua vida havia sido destruída por ela, e mesmo que sentisse uma certa simpatia por aquele velho padre, não havia como negar esse ódio. Imaginou que o manto cinzento do eremita ajudava; era bem diferente dos mantos negros dos padres e monges que mais detestava no mundo. Enquanto vivera com Ms. Hannah, ouvira dela algumas histórias da vida de Cristo, e a acompanhava às missas dominicais. A protetora de Arabella era devota da Virgem Maria, e a garota gostava muito da viúva para importuná-la com questionamentos acerca da sua fé. No entanto, até mesmo Ms. Hannah ficara horrorizada com a sequência de eventos que fundamentou a amizade entre essas duas mulheres tão diferentes. E sobre esses eventos Arabella ainda não tinha a menor vontade de conversar.

***

Durante todo o restante do inverno, Arabella viveu na cabana com o velho eremita, cuidando da casa e providenciando comida para os dois. Thimoty recebia ajuda de senhoras ricas que mandavam mensageiros carregados de mantimentos com alguma freqüência, de modo que não lhe pesava tanto alimentar a garota. Além disso, ela deixava sua cabana em um estado bem mais agradável de limpeza, e preparava refeições mais saborosas que as que ele conseguia improvisar com o que tinham. Ele, em troca, lhe ensinava a ler e escrever, incluindo nas aulas os preceitos cristãos. Preparou alguns blocos de argila, pois de início não tinham papel nem pergaminho, e desenhou em cada um deles as letras do alfabeto, maiúsculas e minúsculas, para que ela copiasse. Posteriormente, ensinou-a a reconhecer as letras nas palavras, usando versículos do Novo Testamento, que a garota lia e copiava os textos em pedaços de pergaminho. Ela aprendia depressa, então Thimoty resolveu pedir a alguns de seus benfeitores que incluíssem papel, penas e tinta aos seus donativos costumeiros de mantimentos.

Arabella era uma aluna aplicada, de forma que em pouco tempo conseguia discernir as palavras o suficiente para ler sozinha alguns capítulos da Bíblia. Gostava das histórias de Jesus e de seus apóstolos. E gostava daquele padre, embora seu ódio pela Igreja não arrefecesse nem mesmo com a amizade com o velho. Achava que o que os outros padres faziam não tinha nada a ver com o que aquele judeu pregara na Palestina, há quase mil e quinhentos anos atrás. E achava também uma injustiça que Jesus tivesse sido açoitado e crucificado por dizer a verdade. Mas conhecia o suficiente dos homens para saber que, quanto mais poder eles tem, mais mal são capazes de causar.

– E por que Deus deixou que crucificassem seu filho? – perguntou ao velho, pela décima vez.

– Porque isso fazia parte do plano de Deus. – repetiu o padre, também pela décima vez. – Com a morte do Cristo, nossas almas foram purificadas. E com sua ressurreição, elas foram resgatadas das mãos do diabo.

– Se nossas almas foram resgatadas, por que os padres falam que vamos todos queimar no inferno?

– Porque somente aqueles que são batizados pelas águas, como Jesus foi, e confessam seus pecados, podem ser dignos da graça da salvação.

– Mas por que ele precisou morrer? Quer dizer, não tinha outro jeito?

– Criança, quem somos nós para entender os desígnios de Deus! Mas acredito que tivesse que ser assim, porque somente o sangue de um inocente poderia redimir os pecados da humanidade. E dando seu próprio filho em sacrifício, Deus mostra o quão grande é seu amor por nós.

– Se Deus realmente nos ama, por que deixa tantas pessoas inocentes morrerem nas mãos daqueles padres negros?

– Creio que a culpa, neste caso, não seja de Deus, mas dos homens que interpretam erroneamente suas intenções. Muito sangue já foi derramado “em nome de Cristo”, mas não acredito que ele se sinta lisonjeado com isso. Porém, Deus recompensa os mártires. Para eles, as portas do Paraíso estarão sempre abertas.

Era com diálogos desta natureza que os dois preenchiam o tempo na solidão da floresta. Arabella aprendeu as doutrinas do cristianismo e os dogmas da Igreja, porém sob a visão crítica do padre, o que fez com que ela se tornasse mais receptiva e pudesse assimilar melhor seu conteúdo. Sabia que sua mãe não era uma cristã no sentido literal, mas por vezes a ouvia repetindo a oração do nazareno, de vez em quando pontuada por imprecações contra os padres, que xeretavam suas vidas em busca de pecados com os quais pudessem aterrorizá-las. E embora só tenha aprendido as orações tradicionais com o eremita, ela por vezes tentara compreender alguma coisa daquela cantinela monótona dos padres, quando ia à Igreja com Ms. Hannah. Apenas sua avó desprezava completamente as crenças cristãs, e nunca rezava. Mantinha-se fiel à Antiga Tradição, e costumava dizer que um Deus masculino só servia para complicar as coisas. E por muitas vezes Arabella se viu obrigada a concordar com ela, embora não compreendesse totalmente o significado dessa enigmática afirmação.

Por outro lado, a garota aprendeu a sobreviver na floresta de tal maneira que reconhecia todos os ruídos, conhecia todas as trilhas e esconderijos daquelas redondezas, e conseguia até mesmo prever o tempo com alguma exatidão. Aprendera a rastrear diversos tipos de pegadas, e caçava animais de pequeno e médio porte, chegando mesmo a matar um lobo certa vez, quando foi surpreendida por ele enquanto seguia os rastros de uma raposa. Construiu algumas armadilhas para aves e uma rede de pesca muito boa, com a qual garantia saborosos peixes para acompanhar os pães que o eremita recebia cerca de duas vezes por mês.

Arabella não se sentia tão bem desde que fora acolhida por Ms. Hannah. Viver na floresta com o velho Thimoty lhe trouxera de volta a ilusão de que tinha uma família. Ainda assim, alguma coisa naquele lugar a deixava inquieta. Achando que fosse por causa do isolamento em que estava vivendo, procurava afastar essa sensação sempre que lhe sobrevinha. Mas também não podia deixar de notar que Thimoty estava sendo bastante tolerante em relação ao seu silêncio persistente sobre seu passado. Sempre que ele a questionava, dava-lhe respostas evasivas, procurando a todo o custo não mentir, embora tivesse certeza que o velho sabia que havia muito mais a dizer. Temia que ele não a abrigasse mais se descobrisse quem ela era, e os segredos que escondia. Sabia que, mais cedo ou mais tarde, teria que contar toda sua história àquele velho eremita.

Súbito, ela abriu os olhos diante do fogo, assustada. O fuso em suas mãos acabara de lhe furar o dedo. Thimoty já havia se recolhido, e ela resolveu ir dormir também, uma vez que estava cochilando no meio do trabalho. Arrumou sua cama improvisada sobre a pele de urso e deitou-se, contemplando as velas acesas no oratório do padre. Olhava sonolenta para as chamas trêmulas, sua atenção atraída pelo poder encantador do fogo, ainda que contido, preso naquelas pequenas velas. De repente, viu-se novamente na Praça de Saint Peter, diante das chamas de uma grande fogueira que ardia em seu centro.


 Trecho de ARABELLA