sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Ficará o mundo sem inimigos?



Os Estados Unidos e seus aliados da OTAN já estão há bastante tempo sem fabricar uma guerra. A indústria da morte está ficando nervosa. Os imensos orçamentos militares precisam justificar sua existência e a indústria de armamentos não tem onde expor seus novos modelos.
Contra quem será lançada a próxima missão humanitária? Quem será o próximo inimigo? Quem fará o papel de vilão no próximo filme, quem será Satã no inferno que vem? Isto muito me preocupa. Estive relendo os motivos invocados para o bombardeio do Iraque e da Iugoslávia e cheguei à alarmante conclusão de que há um país, um único país, que reúne todas as condições, todas, todinhas, para ser reduzido a escombros.
Esse país é o principal fator de instabilidade da democracia em todo o planeta, pelo seu velho costume de fabricar golpes de estado e ditaduras militares. Esse país se constitui numa ameaça a seus vizinhos, aos quais, desde sempre, invade com freqüência. Esse país produz, armazena e vende a maior quantidade de armas químicas e bacteriológicas. Nesse país, opera o maior mercado de drogas do mundo e em seus bancos são lavados milhões de narcodólares. A história nacional desse país é uma longa guerra de limpeza étnica, contra os aborígenes primeiro, contra os negros depois; e esse país, em anos recentes, foi o principal responsável pela feroz matança étnica que aniquilou duzentos mil guatemaltecos, em sua maioria indígenas maias.
Haverão de se autobombardear os Estados Unidos? Invadirão a si mesmos? Cometerão os Estados Unidos esse ato de coerência, fazendo consigo o que fazem com os demais? As lágrimas molham meu travesseiro. Queira Deus poupar de semelhante desgraça essa grande nação que jamais foi bombardeada por ninguém.



2000

Eduardo Galeano

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